No momento em que entrámos no Clube Desportivo da Graça, os poucos passos entre o bar e o campo sintético separavam umas quantas gerações. Pouco depois de acenar com cumplicidade ao pequeno Gonçalo, que vai fazendo estremecer as redes da baliza, Rui Vicente, presidente do clube, pergunta ao senhor Madaleno, encostado ao balcão, como é que têm andado os problemas de costas. É nesse momento que percebemos que estamos num sítio especial, onde se respira esse já raro sentimento de pertença a uma comunidade. Trata-se de um clube em que o desporto tem um papel fundamental e congregador.

Um clube histórico ao serviço da comunidade

Enquanto nos mostra com visível orgulho a sede do Clube Desportivo da Graça, a sua segunda casa, Rui Vicente vai-nos contando as histórias que enchem as paredes desta histórica associação.

O clube sopra 85 velas no início do próximo ano e o impressionante recheio da sala de troféus fala-nos das já várias páginas gloriosas da coletividade sediada na rua Senhora da Glória. A referência a Fernando Santos não poderia deixar de ser feita, claro. O campeão europeu chegou a pisar o relvado com o símbolo do Graça ao peito, o que continua a ser motivo de vaidade para quem ali pára. 

O Graça deixou a sua marca em variadas modalidades, do futebol ao ténis de mesa (no qual chegaram a ser campeões da 2.ª Divisão Nacional), passando pelo andebol, basquetebol, atletismo e até mesmo pelo hóquei em patins. Mas nem só o desporto reside no ADN do clube: basta dizer que uma das suas primeiras atrações foi a televisão, que à altura, pela raridade, chamava gente de todos os bairros das redondezas. 

Oito décadas depois de abrir, o espírito comunitário que se vivencia no Clube Desportivo da Graça continua a ser o combustível da sua existência. Rui Vicente respira-o desde sempre: “Tenho 45 anos e estou no clube há 45 anos”, exclama. Ainda assim, o presidente relembra que nem sempre foi fácil manter o dinamismo da associação. Prova disso são os 15 anos de estagnação que assolaram o clube depois da viragem do século. 

“O Clube Desportivo da Graça é, hoje, um projeto consolidado”

Sentados no terraço que nos oferece uma visão privilegiada para o campo sintético, vemos, lá ao fundo, o Tejo a despedir-se daquela tarde outonal. Rui Vicente fala-nos com preocupação do progressivo desaparecimento das coletividades que outrora davam vida aos tradicionais bairros alfacinhas: “As várias associações que a comunidade tinha ao dispor foram deixando de existir. Está tudo fechado ou então abrem apenas muito esporadicamente”. 

Depois de enfrentar um período de inatividade, o Graça renasceu e é, hoje, um espaço de resistência em relação ao isolamento que caracteriza as grandes cidades. Escusado será dizer que o desporto tem tido um papel central neste processo, enquanto cimento que une os tijolos desta comunidade.

O Clube Desportivo da Graça conta com mais de 200 atletas, em diversas modalidades. A lista é longa: mais de 70 miúdos no futsal, entre os 5 e os 14 anos, 50 a fazer ballet, cerca de 30 a praticar Jiu-Jitsu, Krav Maga ou luta greco-romana, por exemplo. Impulsionada pelo papel agregador do desporto, a associação é, agora, um projeto com vitalidade e futuro: “É muito importante para o bairro termos este polo dinamizado, com atividades regulares”, defende Rui. 

Mas o envolvimento com a comunidade não se fica por aqui. Atualmente, a sede da coletividade serve de base de operações à Refood de São Vicente, um projeto sem fins lucrativos criado para redirecionar refeições para pessoas carenciadas, combatendo o desperdício alimentar. Além disso, o clube orgulha-se de organizar a Marcha da Graça, que anualmente tem brilhado na Avenida da Liberdade, liderada por Carla Andrino, sua madrinha há mais de 20 anos. 

O campo de futebol de 5 do Clube Desportivo da Graça é, por tudo isto, muito mais do que um sintético onde se pode fazer magia com a bola nos pés. As paredes desta associação têm infindáveis histórias para contar, e isso sente-se assim que a porta 16 da rua da Senhora da Glória se abre. Não é só futebol: é uma experiência bairrista cada vez mais rara numa cidade em que os relógios teimam em andar rápido demais. 

Com a Field, nunca foi tão fácil juntar os amigos e viver o espírito comunitário em campo.


Faz do futebol uma rotina e entra em campo com a Field!

Write A Comment